06 outubro 2011

Pequenas Histórias (1)



 Meu nome é Chamaco. Chamaco Rodriguez



Há quarenta anos , num domingo frio dentro da primeira semana de junho, o Imortal Tricolor veio a Santa Maria enfrentar o Inter-SM no estádio Presidente Vargas pelo Campeonato Gaúcho. Fomos ao jogo, eu e meu irmão, levados pela mão de nosso pai. No estádio, ficamos atrás da goleira que fica à direita das cabines de rádio, “a goleira do cemitério”. Daí decorre o apelido do campo, ”Baixada Melancólica”. Meu pai ao centro, chapéu e manta, cada filho agarrado à tela, fascinados pelo Grêmio. Lá estavam o goleiro negro Jair, Espinoza, Flecha, Gaspar, Chiquinho Pastor, um zagueiro que 11 entre 10 gremistas não lembram: Rostein. Ele ficou pouco tempo e era do interior paulista. Quem mais? Ah, sim! Dois argentinos vindos do River Plate, o centro-avante Néstor Leonel Scotta (anotem esse nome, escreveremos mais sobre ele) e Carlos Manuel “Chamaco” Rodriguez, um bigodão a Pancho Villa, centro-médio. O Interzinho tinha Tadeu Menezes, Donga, Plein (que jogaria no Grêmio, mais tarde) e o folclórico centro-avante Maneco.
O jogo transcorria fácil para o tricolor, 2 x0, dois gols de Scotta, quando o estádio todo ouviu os gritos de Chamaco: “Prô Pinôssa!!, Prô Pinôssa!!!” Era o gringo que jogava o tempo todo falando, indicando que a bola era para o lateral direito Espinoza (o Valdir) e, lá chegando, Espinoza esticou até o ponta-direita Flecha que, ao chegar à linha de fundo, cruzou. Scotta se passou na primeira trave, a bola abriu um pouco e foi em direção à meia-lua e, ali!!!, o lance mágico! Vendo que ia se passar, Chamaco esticou a perna esquerda para trás e de calcanhar fez um movimento no ar lançando a pelota sobre o seu corpo, inventando uma "bicicleta às avessas”. A bola encobriu o goleiro Valdir e morreu no centro do gol diante dos olhos de dois guris (mais o “mundo” inteiro), hipnotizados pela genialidade do lance. Nas cabines de rádio, Milton Jung narrava emocionado, dizendo que era um gol que ocorreria de 50 em 50 anos, "quem viu, viu", dizia ele. O jogo acabaria 3 x 1.
Vi vários gols de calcanhar, mas um calcanhar de bicicleta, nunca mais.
No final do ano, Chamaco Rodriguez, um cigano da bola, foi para o Uruguai envolvido na transação que trouxe Atílio Ancheta para o Grêmio, mas deixou escrita uma bela página na história do Imortal. Por muitos anos, homens que usavam bigodes espessos e grandes seriam apelidados de “Chamaco”.

Bruxo Niederauer

2 comentários:

  1. eu também estava lá nesse dia e foi exatamente assim! deu saudade daquele tempo e daquela Santa Maria, abraços!

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